O que é a Paralisia Cerebral? Toda pessoa com Paralisia Cerebral tem Deficiência Intelectual?
O termo paralisia cerebral (PC) diz respeito apenas ao comprometimento MOTOR (força e coordenação dos movimentos) e a pessoa pode ou não ter comprometimento cognitivo associado.
A deficiência intelectual é diagnosticada quando o funcionamento cognitivo (inteligência) está abaixo da média esperada, a pessoa pode ter dificuldade para aprender, realizar tarefas do dia a dia e interagir com o meio em que vive. Avaliações psicoeducacionais podem ser utilizadas para diagnosticar a Deficiência Intelectual. Caso a pessoa apresente um QI (quociente de inteligência) abaixo de 70 ela é classificada com Deficiência Intelectual. Em post posterior detalharemos melhor a deficiência intelectual.
Já o termo paralisia cerebral descreve um grupo de distúrbios permanentes do desenvolvimento da postura, tônus e dos movimentos. Causa limitação nas atividades e são alterações não progressivas e, para ser considerado paralisia cerebral, as alterações cerebrais devem ocorrer no cérebro em desenvolvimento, ou seja, no período gestacional, neonatal (até 28 dias de vida) e a idade máxima limite que essas lesões devem ocorrer não é bem estabelecida, varia entre 2 a 3 anos de idade. A paralisia cerebral é a causa mais comum de limitação motora na infância.
As pessoas com paralisia cerebral sempre são cadeirantes?
Não, nem todas as pessoas com paralisia cerebral tem comprometimento motor importante nos membros inferiores. Vários fatores interferem na classificação dos tipos de paralisia cerebral, existe uma classificação que divide a paralisia cerebral de acordo com o tipo de lesão e características clínicas e está representada na tabela abaixo (retirada de artigo da Sociedade Brasileira de Pediatria):
Já para descrever o grau de funcionalidade (independência) da pessoa com paralisia cerebral outras escalas foram desenvolvidas, sendo as mais utilizadas a Gross Motor Function Classification (GMFCS), Manual Assessment Classification System (MACS), Communication Function Classification System (CFCS) e Eating and Drinking Ability Classification System (EDACS). O Sistema de Classificação por Funcionalidade encontra-se resumido na tabela abaixo (retirada de artigo da Sociedade Brasileira de Pediatria):
Quais as principais causas e fatores de risco de paralisia cerebral?
Vários fatores aumentam o risco de paralisia cerebral, sendo os principais exposição a agentes tóxicos durante a gestação (medicações, drogas, agrotóxicos...), infecções durante a gestação (toxoplasmose, citomegalovirus, HIV, entre outras), eventos hipóxicos (falta de oxigênio) ou traumáticos durante o período perinatal, prematuridade abaixo de 28 semanas, peso de nascimento abaixo de 1500 gramas, índice de vitalidade do recém nascido (APGAR) menor que 7 no quinto minuto de vida.
Malformações cerebrais também podem ser causa de paralisia cerebral. Abaixo alguns exemplos de malformações relacionadas à paralisia cerebral, as imagens são de ressonância magnética de crânio.
A ocorrência de Acidente Vascular Cerebral (AVC) no período gestacional ou pós nascimento também pode ser uma causa de paralisia cerebral, nem sempre a causa do AVC é identificada mas quando ele ocorre exames de investigação devem ser solicitados para prever o risco de acontecer novamente, falaremos mais detalhes sobre AVC em pediatria em artigo posterior.
O conjunto de sintomas cerebrais que ocorrem após a redução de oxigênio no sangue e no cérebro chama-se encefalopatia hipóxico-isquêmica, esses sintomas incluem alterações da consciência, do tônus, dos reflexos e crises convulsivas. O cérebro em formação, como é o caso das crianças, tem áreas de vulnerabilidade que quando há falta de oxigênio essas áreas sofrem e são lesadas e pode ocorrer paralisia cerebral. A encefalopatia hipóxico - isquêmica é responsável pela maior parte dos casos de paralisia cerebral do tipo discinética e por aproximadamente 30% dos casos totais.
As pessoas com paralisia cerebral precisam estudar em escolas especiais ou APAEs?
Não necessariamente. As escolas de ensino especial e as APAEs, na maior parte dos casos, são indicadas para alunos que apresentam déficit intelectual (comprovada por avaliação psicoeducacional), como vimos anteriormente nem todas as pessoas com PC tem déficit intelectual associado. Porém em algumas regiões do Brasil as terapias (fisioterapia, fonoaudiologia, terapia ocupacional e psicologia), essenciais no tratamento da paralisia cerebral, são ofertadas apenas em escolas especiais e APAEs logo as pessoas com paralisia cerebral podem frequentar esses locais para fazer as terapias.
Todas as pessoas com PC têm epilepsia?
Não. A epilepsia é mais frequente nas pessoas com paralisia cerebral, principalmente naquelas que têm malformação cerebral, porém nem todas as pessoas com PC têm epilepsia.
Como é feito o diagnóstico de paralisia cerebral?
Para ser feito o diagnóstico a definição de paralisia cerebral deve ser relembrada e para isso descreverei um trecho da definição traduzida do Surveillance of Cerebral Palsy in Europe & American Academy of Cerebral Palsy de 2005.
"O termo paralisia cerebral descreve um grupo de distúrbios permanentes do desenvolvimento da postura e do movimento, causando limitação nas atividades, atribuídos a alterações não progressivas que ocorreram no encéfalo em desenvolvimento, do feto ou lactente."
Tendo em vista a definição acima para ser feito o diagnóstico de paralisia cerebral algumas condições devem ser respeitadas. Sendo elas:
Distúrbio permanente do desenvolvimento com comprometimento da postura e dos movimentos, ou seja, se a pessoa não tem comprometimento ela não tem paralisia cerebral. O grau de comprometimento pode ser mínimo.
Não pode haver piora do quadro ao longo do tempo. Não pode ser progressiva.
A lesão deve ter ocorrido no cérebro em desenvolvimento, ou seja, do período gestacional até 2 a 3 anos de idade.
Respeitadas as condições acima o diagnóstico de paralisia cerebral é considerado e exames de imagem devem ser solicitados. Sendo a ressonância magnética de crânio é o principal exame a ser solicitado.
Como é feito o tratamento da paralisia cerebral?
O tratamento inclui diversos profissionais de saúde como neurologistas, ortopedistas, pediatras, fisiatras, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, psicólogos, educadores físicos, nutricionistas, dentre outros profissionais. O principal pilar do tratamento é a reabilitação e a criança deve ser encaminhada o mais breve possível para os profissionais habilitados. A indicação de qual é o melhor tratamento é feita de forma individualizada, visto que nem todas as pessoas com paralisia cerebral têm os mesmos comprometimentos.
Outros pilares do tratamento incluem vigilância do estado nutricional, visto que as pessoas com PC podem apresentar desnutrição. O controle da epilepsia, se presente, também é importante para melhor qualidade de vida e aproveitamento das terapias. Prevenir piora dos comprometimentos é mandatório, pois as pessoas com PC tem maior chance de ter retração de tendões, luxação de quadril e outras alterações que podem ser prevenidas ou tratadas precocemente. É essencial que a pessoa seja integrada na sociedade independentemente do grau de comprometimento que essa pessoa apresente.
Esse texto foi escrito por Benaia Silva, médica neurologista pediátrica. Para mais informações sobre a autora clique abaixo.
Referências Bibliográficas
Rosenbaum P, Paneth N, Leviton A, Goldstein M, Bax M. A report : the definition and classification of cerebral palsy - April 2006,.Dev Med Child Neurol 2007;49:9-14.
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