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Foto do escritorLuis Paulo Dutra

Tratamento para o Transtorno do Espectro Autista (TEA)

O foco do tratamento do TEA é a melhora na qualidade de vida dessas crianças e para isso precisamos abordar os sintomas centrais do autismo. É importante o estímulo ao desenvolvimento de habilidades simples como iniciar uma interação, mantê-la, desenvolver comunicação efetiva, trabalhar a expressão e reconhecimento de emoções.


Tratamento não é só remédio! No caso do TEA o uso de medicações é a exceção e a regra são as terapias! Esse é o principal elemento que todas as famílias precisam entender.


Existe um papel para o uso de medicações, porém eles são limitados a algumas situações específicas. Por exemplo naqueles casos em que a criança apresenta uma alteração comportamental excessiva junto a agressividade com os outros e com ele mesmo. Nesses casos há vários estudos que comprovam a eficácia de duas drogas: a risperidona e o aripripazol. E é importante esse tratamento uma vez que esses excessivos comportamentos podem causar perigo para essas crianças além de prejudicar a evolução com as terapias. Além desse caso também podem ser necessários tratamentos de comorbidades que podem estar associadas ao TEA, como o transtorno do déficit de atenção e hiperatividade, depressão, transtorno do humor, transtorno de ansiedade, distúrbios do sono, tiques e síndrome de Tourette, epilepsia, cada uma com seus respectivos tratamentos.


Como mencionado anteriormente as terapias que são os verdadeiros tratamentos do autismo. É apenas a abordagem não medicamentosa que objetiva tratar os sintomas chave do TEA. Terapias comportamentais são as mais indicadas e as diretrizes orientam que estas terapias sigam alguns preceitos. Elas devem estar adequadas ao nível de desenvolvimento da criança, devem aumentar o entendimento e a sensibilidade dos pais, cuidadores, professores ou colegas na interação com as crianças com TEA, devem incluir técnicas de aumento do repertório comunicativo, do brincar social e das rotinas sociais. A Associação Americana de Pediatria ainda lembra que essas terapias devem ser iniciadas antes da consideração do uso de medicações.



Dentre as terapias comportamentais com mais evidência podemos citar a estratégia ABA (Análise do Comportamento Aplicado), a estratégia de Treino de Resposta Induzido (PRT) e o Modelo Denver de Intervenção Precoce (ESDM).


ABA e o Treinamento por Tentativas Discretas (DTT) é fundamentado no uso de reforço positivo para o desenvolvimento de habilidades sociais, aumento de comportamentos funcionais e redução de comportamentos indesejados. Isso é obtido através da observação e intervenção no processo de resposta, caracterizado pela sequência: estímulo externo, resposta imediata e consequência. O terapeuta cria um estímulo e aguarda uma resposta, inicialmente pode ofertar ajudas para obter os comportamentos adequados, e sempre que a resposta for adequada aplicar o reforço positivo. Com o passar do tempo as ajudas devem ser reduzidas e os estímulos variados com o encadeamento a novos comportamentos.

Essa imagem resume alguns princípio do ABA. A quantificação dos comportamentos, análise do comportamnto (socialmente significativo ou não), uso desses dados em pesquisa e avliação se medidas estão apresentando evolução adequada e significativa para as famílias e capacidade de usar os comportamentos trabalhados na terapia em outros ambientes como em casa e na escola.


A PRT tem um método um pouco diferente. Ele é baseado em jogos e iniciado pela criança. Essa mudança na liderança ora realizada pelo terapeuta ora pela criança teoricamente tende a gerar uma maior motivação e através da oferta de múltiplas pistas, para evocar a resposta, ele promove a capacidade de escolha da criança. Assim tende a estimular o auto manejo, aumento do número de iniciações de interação social além de melhorar o desenvolvimento das habilidades da linguagem, aumentar os comportamentos positivos e diminuir os comportamentos indesejados.


O ESDM foi fundamentado nos dois métodos anteriores. Também tem se mostrado comprovadamente eficiente no tratamento de TEA. O ESDM foi desenvolvido para trabalhar com as crianças entre 12 a 60 meses de idade e tenta encorajar desenvolvimento de habilidades sociais, da linguagem e cognitivas através de jogos e atividades em grupo. Tem o foco na construção de relações divertidas e positivas. Algumas das técnicas utilizadas são o uso do afeto positivo pelos adultos; a otimização e modulação do afeto (através da modulação da voz e de expressões faciais exageradas) no manejo do nível de atenção e excitação da criança; a resposta sensível e responsável do adulto às pistas de comunicação da criança; uso de múltiplas e variadas oportunidades de comunicação durante o processo; uso de linguagem apropriada e pragmática adequada ao nível e capacidade de comunicação verbal e não-verbal da criança. Durante as sessões o ensino deve ser intensivo (1 oportunidade de aprendizado a cada 10 segundos) e extenso. Essa técnica tem sido cada vez mais empregada em conjunto ao treinamento parental e os benefícios da inclusão dos pais vai além de apenas obter a melhora nas habilidades na criança. O que também foi relatado é a melhor compreensão dos comportamentos dos filhos e consequentemente a melhor interação e o melhor manejo dos comportamentos.


Os profissionais envolvidos na aplicação dessas terapias incluem psicólogos, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e outros. Também é recomendado que estes profissionais tenham experiência com pacientes com autismo e estejam habilitados na terapias citadas anteriormente.

Além de definir o tipo da técnica comportamental a ser aplicada também é essencial definir a duração e frequência das terapias. Existem recomendação de que o tempo total de terapia por semana seja de 15 a 40 horas, apesar de não existir uma quantidade de horas fixa estipulada. Estudos comprovam que existe um efeito positivo relacionado a intensidade e quantidade de horas em terapias.



Educar e criar uma criança com TEA pode ser uma experiência difícil para as famílias, sendo que há aumento de estresse familiar, aumento nas taxas de divórcio, além de maior probabilidade de que os pais de crianças com TEA tenham problemas de saúde mental e física se comparados com pais de crianças sem o transtorno. O treinamento parental tem impacto positivo no tratamento do autismo, tanto em reduzir comportamentos alterados da criança, quanto em reduzir o nível de estresse e tensão dos pais, auxiliar e melhorar a convivência familiar, além de reduzir os custos com terapias. Porém o treinamento parental ainda é pouco praticado e são poucos os profissionais habilitados para realizá-lo, sendo assim a tecnologia tem auxiliado os pais a obter conhecimento, mesmo que nem sempre de forma confiável. Vídeos têm sido muito úteis para treinamento em maior escala desse grupo.


É fácil entender como essa proposta pode ser extremamente intimidante para as famílias. Um verdadeiro desafio, seja pela extenuante rotina com longas horas de terapia quase que diária, seja pelo enorme gasto relacionado. Mas é importante saber que essas medidas tem sido comprovadamente eficientes em promover melhora na qualidade de vida das crianças e familias.


Atualmente quais são as medidas que mais influenciam no sucesso do tratamento?

  • Diagnóstico precoce do TEA

  • Início precoce de terapias comportamentais voltadas para o autismo

  • Comprometimento da família

É claro que cada criança pode ter uma evolução diferente. Por isso mesmo que nomeamos o autismo como um espectro. Assim como cada criança manifesta o quadro de uma forma única, são multiplas as respostas ao tratamento. Porém garantindo esses elementos sabemos que a criança vai atingir o máximo potencial dentro da sua capacidade.


Outra mensagem importante que toda família atípica deve saber é que não existe nenhum tratamento milagroso para o autismo, independente de que país você esteja ou de quanto dinheiro você tenha. Os tratamentos citados acima são as melhores opções para o seu filho. Mas nós sabemos que o que não falta são falsas promessas de tratamentos infalíveis de cura! No meu próximo post vou discutir como reconhecer esses falsos tratamentos.

Dr Luis Paulo Dutra - Neurologista Pediátrico



Esse texto foi escrito por Luis Paulo F S Dutra, médico neurologista pediátrico. Para mais informações sobre o autor clique no logo ao lado.






Referencias


Livros para ajudar as famílias a entender o tratamento



Autismo - Compreender e agir em família

Autora Sally J Rogers e Geraldine Dawson


Excelente dicas para auxilar os pais a estimularem seus filhos e compreenderem e reagirem aos seus comportamentos.


(clique na imagem para mais info)





SOS autismo

Autora Mayra Gaiato


Informações para famílias entenderem seus filhos com TEA. Um bom guia inicial.


(clique na imagem para mais info)

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